Caros leitores, não desejo de maneira nenhuma que o telemóvel seja proibido dentro das escolas, agora, defendo isso sim, que haja regras claras quanto à sua utilização, nomeadamente dentro das salas durante uma aula que está a decorrer! Isto é de senso comum, até por uma questão de educação e respeito pelos demais consigo presentes. Também não venho eu aqui alargar-me sobre isto nem vou enumerar algo que penso que para quase todos é evidente…
O que me leva a fazer referencia a este assunto é a minha indignação que não posso esconder, perante o tão badalado caso mediático da gravação de um exemplo claro de desrespeito e indisciplina dentro de um local de ensino, por parte alunos, principalmente uma, para com a sua professora na escola Carolina Micaellis. Fiquei indignado, não só com as imagens que vi, que me chocam mas não me surpreendem, como a muitas outras pessoas eu já se manifestaram publicamente, mas também as proporções que este caso tomou. Desculpem a minha capacidade muito reduzida para explicar o porquê das dimensões que isto adquiriu, mas tenho a minha opinião pessoal. É sabido que houve muitos outros casos de agressões mesmo registados em vídeo e não fizeram disso o atentado do World Trade Center. Já para não ter em conta as consequências nefastas para aquela escola, funcionários, aluna e a sua família que a exagerada exposição mediata ao publico acarreta ou trará, consequências essas evitáveis e que não aconteceriam se este problema fosse resolvido mais discretamente pelas instancias próprias e competentes. Mas numa visão mais abrangente, há males que vêm por bem! Se a intenção dos meios de comunicação era sensibilizar ou alertar a população e os governantes responsáveis para este mal, um pouco enevoado e por vezes abafado, que mina, degradando o ensino e a nossa sociedade, eu, sinceramente, acho que foi um sucesso. Esta repetição televisiva que quase chateia criou um clima social no mínimo de espanto e descontentamento, que envolveu os senhores Presidente e Procurador-geral da República obrigando-os pelo menos a manifestarem perante os cidadãos e pressionar altos dirigentes e entidades, a mais apontada, a Sr.ª Ministra da Educação, tendo no entanto, sido alvo de grande aproveitamento politico. Mas suscitou debates e, nem que fosse só para contentar e satisfazer o público, como já é costume, levou inevitavelmente a tomar algumas medidas, embora acredite que fossem só para a mostrar trabalho naquela ocasião… Desculpem ainda a analogia não muito feliz, mas isto já parece os casos das Juntas Médicas.
Como disse, não me surpreende e não acredito que exemplos comos estes sejam tão pontuais como alguns nos querem fazer parecer. Seria tapar um pouco o sol com a peneira ou não estar por dentro da realidade escolar. Eu como ex-aluno, não há muito tempo, presenciei durante a minha vida escolar alguns casos, embora se calhar não tão clamorosos, mas também graves e que penso que não foram devidamente resolvidos com a resposta mais assertiva e eficaz. É certo que neste contexto a personalidade, a postura do professor e a caracterização que os alunos têm dele é um factor de influência Não defendo o modelo do professor ditador nem muito menos a anarquia, seja qual for o estádio de ensino (básico, secundário, superior). Entendo que este acontecimento, revela também um pouco do que nós, como sociedade, estamos estruturados e como tal exige uma solução social urgente com um contributo de todos. Porque também nós somos responsáveis e não só a escola. Lembro-me de o nosso Presidente da República perguntar: “o que é preciso fazer para que nasçam mais crianças” no nosso país. Espero que não entendam como uma critica a ele dirigida ou uma brincadeira semelhante à que foi feita num dos scatches dos Gato Fedorento, mas fazer crianças é relativamente fácil. Pior é criá-las e educá-las, isso sim é que dá que fazer, e despesa, obrigatória além da necessária, para não falar-mos na que muitas vezes é impingida pela cultura consumista. Quantas famílias não têm condições tanto económicas como familiares para continuarem a ter seu cargo os seus filhos? Ou se não quisermos ir tão longe, o que acontece com muitos outros casais? Como forma de colmatar essas necessidades muitos pais na maioria das vezes optam por ter apenas um filho, quando não os têm, e mesmo assim esmeram-se em trabalho para conseguir dar qualidade de vida que acreditam que os seus filhos merecem. Desde tenra idade as crianças são postos em creches, jardins de infância, escolas, ATL’s entre outros, mesmo assim parecendo não serem suficientes, de modo a acolher estas crianças e jovens privados de grande parte do contacto com os pais que trabalham e não podem nem têm tempo para dispensar atenção, cuidado e convívio suficiente e precioso na educação por excelência no seio familiar. Essas funções são frequentemente delegados nas escolas e estabelecimentos abertos ao público. E para mim é mais isto que acontece e que deixa à deriva os mais jovens, não preparados para a sociedade ideal que se pretende. Estes por sua vez refugiam-se com os seus grupos de pares ou semelhantes que os incorporam e que partilham das mesmas ou parecidas necessidades, dúvidas, criando uma cultura e valores próprios que nem sempre são os melhores. Por fim, acontece que pais numa tentativa para compensarem estas carências oferecem entre outras coisas o telemóvel com câmara de vídeo…