No passado dia 27 de Agosto de 2009 assisti à Grande Entrevista, dirigida pela jornalista Judite de Sousa, que para muitos foi um grande debate pois reuniu frente a frente como que 4 dos grandes pilares da força de intervenção da sociedade activa não política do nosso pais para debater o estado actual do país nas áreas mais mediáticas. Falo dos representantes das profissões com mais estatuto ou socialmente com mais prestigio, os bastonários das ordens dos Médicos, Advogados, Economistas e Engenheiros. Efectivamente há quem pense que são secretários-gerais dos principais monopólios nacionais, mas isso já é outra conversa.
Para mim, os que lá estavam não eram os que detinham maior peso em termos de representatividade, pois a ordem dos enfermeiros não estava lá e esta representa um maior sector profissional do que a ordem dos médicos, mas como estava lá o senhor doutor, o emblema medicina e da saúde, para que é que serve o enfermeiro, já não faz falta!
E isto desagradou-me e revoltou-me muito, principalmente como profissional de saúde, pois como prestador de cuidados de enfermagem penso, que a nossa opinião seria pertinente e muito útil, principalmente no que toca na área da saúde, não só pelo número de indivíduos filiados, mas também porque temos uma participação mais directa e activa com a sociedade, estamos involucrados na gestão dos centros de saúde, colaboração com outros focos de atenção sanitária, parcerias etc... É neste sentido que reinvidico não apenas como um direito em representação dos coletados, mas um dever para com a população, a participação da bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Não vejo porque não haveria de participar também se é uma Ordem que além do mais foi criada a quando a ordem dos Economistas, tanto uma como outra são profissões dignas e de grande impacto na sociedade...
Como enfermeiro sinto-me desiludido, pois aí também se refletiu um pouco a imagem e o conceito que a população em geral e outras profissões absorveram e têm da nossa ao longo dos tempos, mantendo-a muito também por desleixe nosso. Não é de estranhar que se preserve a consciência de mero coadjuvante médico, de interventor secundário e prescindível, o “apêndice” da medicina, quase que o perfeito mordomo em que o patrão diz o que quer que seja feito e o “subordinado” que já sabe como, inclusive, o seu “senhor” quer e gosta que seja feito... (só faltando ser inquestionável, “os seus desejos são ordens”). Não podemos sacudir a água do capote, grande culpa neste aspecto é muito nossa (de todos os enfermeiros), e digo isto, pois não soubemos verdadeiramente demonstrar o contrário, acender a lamparina do verdadeiro reconhecimento tanto social como na área da saúde, que estou convicto que enfermagem é merecedora. Acho que até à muios de nós pecamos por não investir no dia-a-dia nas nossas capacidades e competências explorando-as, como a educação para a saude, ora por refugiarmo-nos na protecção da responsabilidade médica. No entanto, não posso deixar passar em claro, o que para mim me parece mais que actuação ineficaz, uma aparente inatividade por parte da própria ordem (órgão máximo) que vendo o itinerário que enfermagem tem levado nos últimos tempos no nosso país, apenas apresenta como solução mais exigências e dificuldades para os enfermeiros e facilitismos para quem tem em vista ser um futuro profissional. Acho sinceramente que não tem vindo a intervir em momentos decisivos e apropriados com medidas adecuadas, demosntrando empenho e ser uma mais valia publicamente junto daqueles a quem está por natureza obrigada a servir, enfermeiros e população em geral, demarcando-se do poder político sem uma actitude tão permissiva e consentida.
Não digo que enfermagem em Portugal não tenha qualidade, antes pelo contrario, há e muitas vezes melhor que fora, onde ao bom estilo português: “a broa da minha vizinha é sempre melhor que a minha”. O que acontece é que, frequentemente, não é apreciada nem se lhe dá o devido valor! E assim falo porque sou enfermeiro há mais de dois anos, com as quotas regularizadas, e apesar de estar a trabalhar em Espanha, mais uma vez por causa de toda esta crise que afecta Enfermagem no nosso país, choca-me ao inteirar-me destas coisas que vão acontecendo, se vai deixando passar, e o que se tem vindo a fazer...